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domingo, julho 26, 2009

Refém de palavras

Eu quero não pensar.
Eu tento não pensar em ti!
Sigo o teu conselho inútil
No entanto vozes se abrem dentro de mim.

Do meu cérebro escorrem palavras
Como lavas que vazam borbulhantes
E se vão lentas deformando
A composição humana que ainda existe em mim;
_Melhor fora a solidão de antes.

É uma explosão de murmúrios
Que no meu silêncio grita mais alto que alegria ou dor,
É como a voz da esperança clamando
Quando se tem esperança clamando junto ao amor.

Pensamentos corredios...
Correm como sangue,
Escorre como seiva...
E esta árvore porífera poda-se o pensar!

Poda-se em vão.
Escorrem murmúrios sem forma, sem cor,
Escorrem gemidos confusos de ânsia e dor,
Escorrem silenciosos em sulcos
Na cratera de um excêntrico vulcão;
Dão voltas e voltas
Inundam o cérebro
Transbordam-se às margens
Dão voltas e voltas
E volta ao coração.

Escorrem como lágrimas
_ palavras são! _
Palavras palavras...
Lágrimas da paixão.

Queimam meu rosto como brisa vaporosa
_ sopros ardis de pensamentos _
Chamas de desejo em labaredas ao vento
Soltas como folhas arrancadas pelo tempo
Num temporal de fúria do próprio pensamento.

Umedeço a língua para o indigesto sabor
De reconduzir à garganta o que o cérebro regurgita:
Vocábulos insípidos;
Versos, porém sápidos ao amor.
Circula ao léu borbulhas vagantes
_ o que seria poesia _
Uma declaração de amor.

Palavras palavras...:
Metal frio;
Espada afiada do amor...
Coliseu dos sentimentos...
Arena na qual me prendi...
Desafio para *O lutador.
Como parar?
Como prosseguir?

“Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali. ...”

*O lutador: Poema de Carlos Drummond Andrade.