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sexta-feira, janeiro 26, 2007

Domingo

Fim de feira

A rua ao término da feira, leva um tempo para os nossos olhos se adaptarem à sua normalidade. Depois de varrida a última folha, até a limpeza parece estranha; falta naturalidade (originalidade), mas o cheiro recendente nos leva os sentidos à doce exuberância do pomar de lembranças.

Logo a paisagem vai se renovando: Crianças, brincadeiras, jovens, vozes, gritos, meninas, moças, senhoras, gestantes, homens, carros, postes, fios, pássaros, pombos,... Pombos? Pombos já não são pássaros, são bichos comendo detritos de bichos e cagando infecção! Cães... e os telhados que espiavam o movimento por sobre a lona das barracas exibem novamente suas estruturas, a área, o jardim, e a morena bonita cantarolando arrumando os cabelos com o gato na janela.

É bom o cheiro de feijão refogado.
A imagem na tv é a mesma da semana passada
A linguagem do outro século
_ Perdão! Podem buzinar._
A linguagem é a de sempre: Vômito, podridão.
“Quem não se comunica se se trumbica”.
Que saudade da comunicação!


É domingo, os homens jogam e bebem, os bares estão cheios.
Quanto será que custa uma cerveja?
Rabo de galo dá dor de cabeça; e uma ressaca!
Pensar em conhaque me causa repulsa, e arrepio, dor de cabeça...

Puxa! Como tem mulheres alcoólatras e fumantes hoje em dia!
O preço do abacaxi é um absurdo! É de morte!
E o pepino então!...
E o sexo?
E o coquetel?
É melhor ser autólatra que alcoólatra?

Tudo custa.

Tudo embriaga, tudo é vício, tudo vicia!
Até a rua
A noite
A lua
A sarjeta
A dor...
Há cura!

Nunca serei um busto.
Espelho

Nunca serei um busto
Nunca serei um monumento
Onde os pombos trepem
E se lubrificam se amando
Cagando os dejetos dos dejetos
Dos dejetos dos homens: Nós;
Vistos do alto.

Nunca serei história
Também história não fiz nem farei
Não sou história
Não conto
Não sou conto
Talvez pombo.

Nesse tempo, _ Tempo das águas _
Logo após a estiagem da tão esperada primeira chuva, o sol,
Lembra-me um velho; eu já o conheci cheio de rugas e grisalho, a dançar entre as covas, semeando grãos, com amor e fé, e espalhando com os pés a terra para cobrir a esperança do futuro;
O suor escorrendo em seu rosto como água no leito de um sinuoso rio,
E seus cabelos pretos, entremeados se fios bancos sob o chapéu de feltro, reluzindo como orvalhos à sombra tocados pelos raios do sol da manhã.
Sabedoria e humildade andavam de braços dados rezando, cantando e dançando, e compondo os novos passos para os jovens e ainda imaturos semeadores de esperanças.
Há vidas, há momentos, e há fatos que compõem nossas lembranças que são mais que perfeita poesia, é uma oração, um diálogo direto com Deus numa linguagem de semelhança de sentidos.
Tudo que Deus criou tem sua utilidade. E ser útil é o fundamento de toda criatura, portanto tornar-se útil, sentir-se útil é fundamental para se sentir ser vivo...
Não compreendemos os insetos, a razão de suas existências, mas eles cumprem seus compromissos para com a vida. Como as formigas, as abelhas, ainda são espelhos para o homem.
Tudo que Deus criou tem sua serventia, inclusive o homem, e é preciso viver dentro do limite da sua precisão; nem mais nem menos.

Ele dizia coisas assim enquanto dançava esmagando os torrões úmidos, esparramando a terra sobre as sementes.
A fé sempre florescia primeira.

Dele não se fez notícias
Não se fez nenhuma ode
Nenhuma epopéia,
Ele apenas cumpriu seu destino,
Nem mais nem mesmo.
Fez-se o bastante no extremo da necessidade.

Mas eu tenho dele um retrato
O seu auto-retrato;
E como pano de fundo eu vejo o céu
Estampado mulher ostentando-o nas nuvens, sua esposa;
Minha mãe.

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