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sábado, setembro 08, 2007

Sobre Carlos Drummond de Andrade...

Ex-genro e tradutor lembra a amizade e trabalho com poeta

Escritor Manuel Graña Etcheverry planeja lançar uma coletânea de cartas com a ajuda de Antonio Carlos Secchin

Imagine a seguinte situação: um advogado argentino escreve a um senhor brasileiro, poeta célebre, lhe comunicando que se casaria com sua filha única, seu xodó. Na carta, nada de elogios a si próprio, e sim uma apresentação de seus defeitos.

Foi dessa forma que começou o relacionamento entre Carlos Drummond de Andrade e Manuel Graña Etcheverry, seu futuro genro e tradutor para o espanhol - acima de tudo, um amigo para o resto da vida, dos poucos que desfrutaram de sua intimidade que ainda estão vivos.

''''Ele me respondeu de imediato. Minha carta o agradou porque eu me retratava com sinceridade'''', conta, quase seis décadas depois, Etcheverry, ''''Manolo para os íntimos'''' - assim ele assinou o e-mail enviado ao Estado na semana passada, em pronta resposta a perguntas mandadas pela reportagem.

O escritor, de 91 anos, fala com prazer da amizade, inabalável mesmo com a separação dele de Maria Julieta, em 1972. E diz que sente falta de Drummond. ''''Compenso essas saudades relendo-o.'''' Apesar de dominar o idioma (verteu para o português obras de García Lorca), o poeta deixou nas mãos do genro, que jamais havia assumido tal tarefa, traduções de poemas como A Mesa e A Máquina do Mundo. Etcheverry também participou de projetos de compilação de sua obra.

''''Modéstia à parte, Carlos sabia que, em matéria de versificação, eu era versado'''', justifica, deixando clara sua admiração pelo amigo: ''''Carlos construiu um sistema de rimas único no mundo, tão sutil que os leitores ficavam desnorteados. São rimas de consoantes, como em ''''perfume-nome'''',''''corpo-harpa'''', ''''tumbas-pombas''''.

''''Ao falar de sua personalidade, relembra o escritor metódico, que jamais alterava sua rotina; do homem que amava profundamente a filha, tanto que, após sua morte, disse-lhe que ''''não encontrava mais razões para viver''''; do ser humano que ''''tinha tanto respeito pela vida, que quando aparecia uma barata, ele a empurrava suavemente com um jornal até que ela saísse para a rua''''.

Etcheverry guarda muitas cartas de Drummond para Maria Julieta e para ele, as quais pretende editar com a ajuda do acadêmico Antonio Carlos Secchin.

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